A BANDEJA NA POESIA
Era um cair da tarde do primeiro dia de fevereiro do ano de
2012,
ao sair do trabalho num encontro
despretensioso, inusitado e proveitoso, tive o prazer
de papear por alguns minutos com minha amiga
, poetisa, e professora das boas , Edilza Vasconcelos.
Claro que nossa conversa gira em torno de
poesias , poetas e repentistas, uma verdadeira
aula para mim que sou um curioso e admirador
ferrenho do cordel, tanto que as
vezes
me arvoro a escrever um pouco.
Surge mais
que de repente, um assunto dos
mais importantes, no que diz respeito a
cantorias.
É sobre a manutenção da “BANDEJA” na cantoria
de viola...sai daquela conversa com o
juízo remoendo e com vontade de expressar o meu pensamento.
Quero dizer inicialmente que na minha modesta
opinião, retirar a bandeja da cantoria
é querer secar o mar, ou tentar apagar um
incêndio com gotas d'água carregadas em
bicos de
andorinha, .
Existe uma passagem
bíblica que trata do dízimo e diz que você deve ofertar aquilo que
lhe sobra, no entanto uma senhora de avançada idade , resolve ofertar a
única moeda
que tinha, isto nos
mostra ter sido esta a maior oferta, pois foi dado tudo o que tinha,
não importa o valor,
mas sim o ofertório.
Uma pessoa pode ter
dinheiro suficiente para contratar uma dupla de cantadores e se
deliciar com a arte dos dois, mas é preciso que a
bandeja seja mantida, não só pela
tradição, mas também
porque outras pessoa menos afortunadas que estejam a participar
da cantoria , possam
deixar a sua singela oferta, em reconhecimento ao trabalho ali
executado. Não é só o dinheiro que paga a
apresentação de um artista, o aplauso a
atenção, o
reconhecimento pela arte em determinadas ocasiões tem valor superior ao
monetário.
Um pé de parede sem
a presença da bandeja, torna-se um
evento capenga, uma cantoria
Saci-pererê.
Depois fiquei a refletir,
quem sou eu para opinar em tal assunto. Mesmo assim estou eu
aqui fazendo a minha parte, inspirado na
eloquente defesa da poetisa Edilza Vasconcelos,
que com unhas e dentes
vem levantando a bandeira na defesa
deste patrimônio da
cantoria que´é a
BANDEJA. Espero que o meu amigo e irmão Ézio Rafael , com sua
sabedoria e
conhecimento profundo do assunto , abrace esta causa, e que dissemine
no meio artístico dos
poetas, a manutenção da bandeja, um
tradicional gesto tão antigo
quanto a própria poesia...
Que desculpem-me os defensores da retirada da
bandeja, eu ficaria muito triste se isso
ocorresse..acho que o romantismo ainda tem
vaga nos corações dos poetas e dos
admiradores, destes talentos natos do nosso nordeste....
SÃO JOSÉ DO EGITO, ROGAI
POR NÓS..........
DE UMA COISA OUVI FALAR
E ME BATEU A TRISTEZA
NÃO ACABEM A BELEZA
NÃO DEIXEM ISSO ACABAR
A BANDEJA HÁ DE FICAR
E O POETA NO REPENTE
AGRADECE E DIZ A GENTE
NÃO MEXAM NESSA
BANDEJA
BENDITO LOUVADO SEJA
DEIXA AI ESSA SEMENTE.
A BANDEJA JÁ FAZ PARTE
É UMA GRANDE TRADIÇÃO
O CANTADOR DIZ QUE NÃO
NÃO QUER VER ESSE DESASTRE
O DÍZIMO DA NOSSA ARTE
QUE JÁ VEM DO ORIENTE
PERMANEÇA PARA SEMPRE
ESQUEÇAM ESSA PELEJA
BENDITO LOUVADA SEJA
DEIXA AI ESSA SEMENTE
Hugo Araújo: Arcoverde
06/02/2012...........